A missão do Festival Anual de Teatro Académico é, desde a sua primeira edição, promover e divulgar o Teatro Académico, garantindo-lhe um lugar de honra na oferta cultural da cidade.
Na sua 22.ª edição o FATAL apresenta oficinas, laboratórios, exposições e espetáculos, distribuídos por quatro categorias.
Em 2023 começamos com Outras Cenas, entre os dias 04 e 17 de maio. De 18 a 27, Em Competição apresentar-se-ão espetáculos selecionados por um grupo de especialistas. Também teremos Mais FATAL, com espetáculos de grande qualidade que não integrarão a competição, e FATAL Convida com grupos internacionais que contribuirão para a diversidade do festival.
Mais uma edição, mais um ano em que o FATAL coloca a ULisboa e a capital na rota dos grandes festivais europeus de teatro universitário.
Em justíssima e inspirada hora, o Festival e a Universidade decidem reconhecer aquele que tem sido, ao longo das últimas três décadas, um dos mais persistentes, senão mesmo o maior protagonista e dinamizador de uma prática e ensino de teatro universitário, ao nível da interpretação e criação, na ULisboa e no país, o ator, professor e encenador açoriano, Ávila Costa.
Pese embora uma considerável dose de parcialidade, uma vez que integrei o Grupo de Teatro de Letras (GTL) entre 1998 e 2005, não será excessivo assinalar algo que é vulgar e unanimemente reconhecido por vários intervenientes do teatro universitário e profissional. Mais que não fosse, desde logo pela duração e intensidade desta sua dedicação e investimento: desde 1989 no GTL, até hoje, portanto há 34 anos, com uma ininterrupção que é constituída, por um período de ensaios pós-laboral, de cinco dias por semana, desde o início até ao final do ano letivo. Perdoe-se o neologismo, outra alma mater, mas do teatro universitário.
Não se trata apenas de quantidade, mas também de densidade: aproveito a ocasião para assinalar e registar três datas charneiras deste percurso sui generis no teatro. Primeiro, Ávila Costa ingressa com uma bolsa social, no Curso de Teatro do Conservatório Nacional em 1976, com 24 anos, mas já depois de terminar a missão de colaborar com a Frelimo, para a transição de poder e a entrega das armas dos militares portugueses, no período pós 25 de abril, em Maputo. Salgueiro Maia foi seu comandante na especialidade para polícia militar. Havia sido convocado a 24 de abril de 1974, interrompendo um curso de Sociologia, com uma bolsa do governo dos açores, no anterior ISCSPU.
Segundo, foi em outubro de 1989, a um escasso mês da queda do muro de Berlim, que diria, se “entrincheirou” na direção do GTL, afastando-se assim de práticas de teatro menos engajadas. E agora, terceiro, esta homenagem em 2023, no ano posterior ao final de um isolamento mundial, forçado pelas razões que conhecemos.
Destas experiências e datas importa filtrar três aspetos fundamentais relacionados com a prática de teatro de Ávila Costa: a entrega total e o rigor como método de trabalho, o comprometimento ético e político na formação dos atores, a comunidade (o coletivo) e a partilha de uma outra forma de viver, mais próxima.
Oponente frontal da ditadura, de injustiças e opressões, tem-se esforçado sempre também por transmitir aos seus alunos, ao mesmo tempo, a compreensão da dimensão de “contradição” nos seus processos.
Poder-se-á assim afirmar que Ávila Costa, vive numa espécie de “exílio na própria pátria”, acompanhado pela única “aristocracia”, tal como Mário Levrero definiu, que pode legitimamente ser distinguida como classe: a juventude. Há 34 anos que o Ávila pratica e difunde esta camaradagem por conta própria. Tem sido este posicionamento, que tem feito com que atores profissionais de várias gerações, desde o final dos anos 80, sejam sempre os primeiros a reconhecê-lo.
Rui Teigão
Programador do FATAL de 2002 a 2017
Gestor Cultural na DGARTES
A crise em que esta geração de estudantes universitários vive desde que se conhece, a pandemia, a guerra, a inflação galopante, atravessa todos os espetáculos desta edição do FATAL. É inevitável. Ela cria um redemoinho de normalização da decadência, de aceitação da precariedade, de atavismos, modorras, quarentenas, inações, que o teatro democrático deve questionar. Não é que o teatro resolva tudo, mas lá que os grupos universitários mostram no palco que estamos numa nova fase, mostram.
Há uma luz ao fundo do túnel.
O mal da juventude, descrito por Ferdinand Bruckner em 1926, é a sua transição no tempo e no espaço. Um tempo e espaço seguros, onde tudo ainda é possível e realizável, e outro tempo e espaço onde tudo passou a ser questionável, censurável e cruel.
Uma angústia existencial modelo de uma geração.
A geração dos que andam aos papéis, à procura do seu lugar, que desistem antes de tentar, que esperam gratificação imediata todos os dias, que se integram e se questionam, que não se integram, continua, neste tempo e espaço, a encontrar motivos para questionar, censurar.
O nosso tempo e o nosso espaço são, hoje em dia, tão dramáticos como na época em que o nazismo cresceu na Europa, e não é que estamos outra vez, menos de cem anos depois, “em guerra”? Podemos sempre comparar tempos e pessoas, e usar metáforas, novos mitos. Podemos sempre porque no teatro tudo é possível. Podemos sempre porque no teatro universitário ainda tudo é possível. O Teatro Universitário, livre das rédeas do comercialismo, da cultura popular, das flutuações do mercado, do like fácil, pode afirmar-se, ele sim, o verdadeiro teatro do pensamento, a Universidade e a Academia são os seus bastiões.
O teatro transporta consigo a herança da democracia, ambos nasceram ao mesmo tempo, ambos são filhos das mesmas Euménides de que Ésquilo nos falou. As Erínias (Fúrias) que passam a ser as benevolentes Euménides. Esses sentimentos humanos tornados deuses, aplacados para sempre no altar do tribunal popular. A trilogia de Ésquilo não é só a única trilogia completa que nos chegou, ela é também fundadora da civilização ocidental.
E no FATAL deste ano, estarão em cena ideias muito diferentes. Os grupos escolhidos para a categoria EM COMPETIÇÃO (TUP, NNT, GTL, GTIST, ARTEC, mISCuTEm), revelam todos um pensamento e uma relação profunda entre o texto e o palco. É o drama a nascer. O drama, como tempo e espaço de pensamento, da ação sem resposta racional. O drama como local onde a imaginação individual se encontra com a coletiva, com a posição do Outro. Esse sim, o verdadeiro local a habitar, o da personagem.
Os assuntos do dia, a inflação, o preço das casas, a individualização, vêm ao de cima como numa sessão terapêutica ou como num exorcismo. Há textos sobre a vida dos estudantes, há águas contaminadas com sedimentos, mitos shakesperianos, servidores de dois amos (quantos empregos temos?). Vimos também a representatividade e a diversidade como factor de ligação e não como divisão, através da integração de múltiplas sensibilidades, múltiplas cromaticidades, línguas e motricidades.
Tudo sinais de uma boa saúde mental. Tudo sinais de que ainda estamos todos a ser estudados, que nos mantemos todos em tratamento. Sinais que, esperamos, sejam importantes para as vidas dos que forem assistir aos espetáculos do FATAL deste ano.
“O primeiro passo para a cura é a aceitação da etimologia da própria palavra doença.”
Pedro Marques
Pedro Saavedra
Sandra Hung
Atribuição dos Prémios da edição de 2023 e festa/convívio de encerramento do Festival
As oficinas são limitadas às vagas disponíveis.
As candidaturas são feitas através de formulário e as vagas atribuídas por ordem de inscrição. Os resultados serão comunicados por email.
Espetáculo
André Marques, Bárbara Gomes, Nelson Sousa, Rita Poças e Rodrigo Machado
1h30 | sujeito à lotação da sala | Gratuito
FATAL Kids
Sara Anjo
1h | crianças dos 3 aos 10 anos e famílias | Gratuito
Spoken Word
Lúcia Sousa, Mariana Belo, Mariana Paiva, Mariana Ribeiro
35' | sujeito à lotação da sala | gratuito
Oficina de Artes Visuais
Tânia Dinis
4h | 12 participantes | 7,5€
Oficina de Fotografia de Teatro
MEF - Luís Rocha e Tânia Araújo
8h | 10 participantes | 90€/110€
Oficina de Escrita para Teatro
Rui Pina Coelho
4h | 20 participantes | Gratuito
Alameda da Universidade
1649-004 Lisboa
Metro: Cidade Universitária (linha amarela)
Carris: 731, 735, 738, 755, 764, 768
Alameda da Universidade
1649-004 Lisboa
Metro: Cidade Universitária (linha amarela)
Carris: 731, 735, 738, 755, 764, 768
Campo Grande 18
1700-162 Lisboa
Metro: Campo Grande (linha amarela/verde)
Carris: 207, 701, 717, 731, 736, 750, 755, 767, 798
Junta de Freguesia de Benfica
Avenida Gomes Pereira, 17
1549-019 Lisboa
Carris: 716C, 724, 750, 784
Avenida de António José de Almeida
1049-001 Lisboa
Metro: Saldanha (linha amarela), Alameda (linha verde/vermelha)
Carris: 712, 714, 727, 732, 738, 751, 756, 760, 724, 720, 742
Os espetáculos são de entrada livre mas sujeitos à lotação da sala.
Os pedidos de reserva devem ser realizados através do email fatal@campus.ul.pt até às 13:00 do dia do espetáculo. As reservas carecem de confirmação.
As portas abrem 60 mins antes do espetáculo, e o levantamento dos convites deverá ser realizado até 30 mins antes do início do espetáculo.
Para a 22.ª edição do FATAL, foram selecionados 6 espetáculos para integrar a categoria de competição.
Graças ao patrocínio da Câmara Municipal de Lisboa, o FATAL concedeu, uma vez mais, dois prémios com vertente pecuniária: O Prémio FATAL distingue o melhor espetáculo e o Prémio FATAL – Cidade de Lisboa consagra o espetáculo mais inovador.
O Prémio FATAL do público é atribuído ao espetáculo que obtém a mais alta classificação dos espetadores do Festival.
A cerimónia de entrega de prémios desta edição decorreu no dia 2 de junho, pelas 17h00, no Auditório da Cantina Velha.
GTIST – Grupo de Teatro do Instituto Superior Técnico da ULisboa
ArTeC - Grupo de Teatro da Faculdade de Letras da ULisboa
NNT – Novo Núcleo de Teatro da Universidade Nova de Lisboa
GTFUL – Grupo de Teatro dos Funcionários da ULisboa
Pedro Adão e Silva
Ministro da Cultura
Rui Pina Coelho
Diretor do Centro de Estudos de Teatro da Faculdade de Letras da ULisboa
Diogo Moura
Vereador da Câmara Municipal de Lisboa
António Feijó
Presidente da Fundação Calouste Gulbenkian
Elmano Margato
Presidente do Instituto Politécnico de Lisboa
Teresa Faria
Atriz
Massimo Milella
Em representação do Centro de Estudos de Teatro
David Antunes
Em representação da Escola Superior de Teatro e Cinema
Alexandra Sabino
Em representação da Câmara Municipal de Lisboa
Helena Vaz da Silva
Em representação da Fundação Calouste Gulbenkian